PARA SABER MAIS SOBRE O POETA
Vinícius X medo de avião
Vejam alguns trechos que consegui sobre o medo que Vinícius tinha de voar!
O lugar preferido da casa de Vinícius de Moraes era a banheira. Mas havia alguns pré-requisitos: as torneiras tinham de estar inclinadas em determinada direção para que o fio de água quente o acalmasse e o de água fria o mantivesse aceso. A tampa do ralo deveria ficar um pouco aberta para permitir a renovação da água. Uma tábua sobre as bordas da banheira servia de mesa, onde ele punha livros, pedaços de papel em que fazia anotações e a máquina de escrever para trabalhar horas a fio. Colocava também um espelho e o barbeador elétrico para fazer a barba.
Se o cansaço batia, cochilava. Certo dia, num cochilo, os óculos escorregaram. Vinícius acordou de supetão e olhou os óculos enfiados num dos joelhos. "O que o Magalhães Pinto está fazendo aqui?", perguntou em voz alta, referindo-se ao calvo ex-governador de Minas Gerais. Tinha muita insônia e tentava curá-la no banho. Muitas vezes, no meio da noite, ia direto para a cama sem se enxugar. "Acordava com a cama ensopada. Outras noites, a casa ficava inundada", conta Gilda Matoso, a última das nove esposas.
Diplomata e poeta, Vinícius de Moraes (carioca, nascido em 19 de outubro de 1913) entrou na música popular para emprestar-lhe dignidade e modernidade. Antes, boa parte das letras era excessivamente dramática, empostada. Vinícius introduziu o tom coloquial, mas de refinadíssima sensibilidade. O musical Orfeu da Conceição, de Vinícius, estreou em 1956, no Teatro Municipal do Rio, com cenário de Oscar Niemeyer e música de Tom Jobim. É o ponto de partida da bossa nova. Em 1959, o filme Orfeu do Carnaval, do francês Marcel Camus, baseado na peça de Vinícius, ganhou a Palma de Ouro de Cannes e o Oscar de melhor fita estrangeira.
Vinícius tinha medo de avião, com razão. Em 1946, um hidroavião da Air France em que viajava com o cronista Rubem Braga sofreu um acidente no Uruguai. A hélice desgrudou do corpo do avião e invadiu a cabine matando um passageiro sentado à frente do poeta. Mãe Menininha do Gantois - à qual foi apresentado por uma de suas esposas, a baiana Jesse - amenizou o trauma. "Você não vai morrer num avião", previu. Vinícius era agnóstico, mas aceitou a recomendação de Mãe Menininha de passar no corpo uma mistura de água e farinha de mandioca antes de embarcar, uma espécie de "pirão dos covardes", segundo ele.
O melhor amigo não era compositor, e sim o paulista José Marcos da Costa, o Zequinha, dono de uma fábrica de tintas. Quando estava com ele, Vinícius costumava dizer à esposa, em tom jocoso: "Não se meta, somos um casal idoso que completou as bodas de prata." Nos shows, apresentava-se sentado diante de uma garrafa de uísque. No final da vida, diabético, foi obrigado a trocar o malte escocês pelo vinho branco, dois ou três copos durante o jantar, sem traumas. Mas jamais abriu mão de seu doce preferido, o papo-de-anjo. Foi ponto de honra na negociação com o doutor. Vinícius morreu quando compunha a trilha do programa infantil Arca de Noé, da Rede Globo. Estava sem sono e ao raiar do dia mergulhou na banheira para relaxar. Sofreu um edema pulmonar agudo e o coração não resistiu. Como Mãe Menininha bem havia dito, ele não deixou esse mundo a bordo de um avião. Foi dentro da banheira, seu lugar predileto.
Valia tudo para se livrar do medo, até ser confundido com um viciado em cocaína:Fume Ary, cheire ViniciusNa letra do baião "Paratodos", Chico Buarque começa definindo suas origens familiares e musicais, para encerrar com uma homenagem muito abrangente a artistas que influenciaram Chico ou com ele convive(ra)m, arrematada por uma definição pessoal No início das homenagens, Chico sugere "usos" para nomes da música brasileira, como se eles fossem medicamentos. Pois bem, uma das estrofes finda com os versos "Fume Ary, cheire Vinicius, beba Nelson Cavaquinho".Sabendo-se que Nelson Cavaquinho bebia e Ary Barroso fumava, isso poderia nos levar a concluir que Vinicius de Moraes cheirava. Foi essa, por exemplo, a impressão do cineasta Luís Fernando Goulart, quando, em 1977, visitou o poeta, que lhe informou que dali a pouco estaria embarcando para Buenos Aires. Nesse momento, Lygia, irmã de Vinicius, entregou-lhe um pacote com um quilo de um pó branco. Constrangido, Goulart fingiu nada ver, mas chegou a comentar o fato com amigos, que ouviam consternados.
Quando Vinicius morreu, em 1980, Goulart disse à esposa que "Com aquele vício em overdose, não podia viver muito mesmo", mas jamais voltou a tocar no assunto com ninguém. Anos depois, o cineasta viu, num especial de TV, Luciana, filha do poeta, relatar como Mãe Menininha do Gantois orientou Vinicius a superar seu medo de avião: ele deveria, antes de cada vôo, passar farinha de trigo em todo o corpo. Só então Goulart entendeu o que presenciara e pôde ficar tranqüilo.
E para finalizar,anexo a famosa frase do poetinha sobre aviões:
O poeta Vinicius de Moraes já dizia:
"É mais pesado que o ar, tem motor a explosão e foi inventado por brasileiro. Não pode dar certo". ...
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