segunda-feira, janeiro 11, 2010

Trecho de Poemas Suicidas - Diário de um Moribundo



Coração - músculo vazio


Meu músculo não bate, não bombeia, não me ajuda em nada, se ele não faz nada, para que usa-lo? Para que senti-lo?

Socorro! Socorro! Meu músculo é um tolo, meu tolo, só você se entusiasma com tamanho esforço! Não precisa se preocupar pode ir, vá! Quando você bombeia sangue para mim, acho que é só nas horas que a vejo, meu doce anjo, é só nessas horas que percebo que você está lá, não só lhe percebo como todo o resto, meu corpo inteiro, sai o sangue frio e entra o morno que logo fica frio, logo fica morto.

Meu anjo prostituto; procuro o crescimento, me sinto mais profundo, me sinto cada dia mais perto das vozes que me assustam gritam quase me deixando surdo. Tenho um anjo aqui comigo, aquele que foi banido, aquele lindo anjo que outro dia chorou para mim, minha Ruth, meu anjo sem céu, meu céu sem estrelas, sem lua cheia, minha Ruth, como anseio por ela nessa noite sem estrelas.

Encontrei uma palavra antiga que nunca usei, fiquei feliz por uns instantes, fiquei eufórico, mas logo cessei, n
Negritoão posso usá-la, nunca poderei, que droga!

Só me resta escrever meu lixo, me resta passar para o papel meu desprezo, meus anseios, minha falta de pudor.

VIII


Jogado ao mar de sêmen no cio ovulante como uma coelha parideira, ouço o som do sexo, é só a lembrança que tenho.

Minha úlcera incomoda quando me masturbo, vomito quando ejaculo, uma mistura de dor e prazer me acolhe como a um filho.

A geladeira está como meu estômago, vazia e ferida, estou com fome e sono. Meus parasitas não deixam meu rosto, é o rosto do desgosto, meu corpo se alegra por ainda sentir prazer e se entristece por toda dor.

Meu amor ainda não chegou, torço para que ela não tenha sofrido com sua profissão de risco, pelo menos não nessa noite tão feia, só a tenho para me dar o belo, não quero curar suas feridas hoje, só quero tentar amá-la.

Quero deitar com ela sem dormir, sentir seu cheiro me faz lembrar do que sempre esqueço, sem ela, só há para mim vazio e olhos negros me vigiando, torcendo por mais uma queda.

Hoje vou amá-la, eu juro que vou tentar, hoje não tem a lua para me amedrontar. Eu temo tanto, acho que meu coração não suportaria mais, não esse tipo de dor.

Sinto frio me consumindo o peito, me cortando como uma navalha, me moendo os ossos, me deixando tonto, fora da razão, que razão? É simples e complexo, é luxo, aconchego, fornicação, desejo, medo, solidão, um turbilhão de sentimentos que não domino, não domino...

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