quinta-feira, janeiro 13, 2011

Os 223 Genes (de Sitchin)


imagem de quem Adão -- o protótipo dos humanos modernos, Homo Sapiens -- foi criado?”. É com essa pergunta que Zecharia Sitchin, autor do livro O 12o Planeta, nos introduz a descoberta de genes “enigmáticos”, parte do anúncio feito pelo consórcio internacional do projeto Genoma em fevereiro de 2001.Em um sumário de suas descobertas preliminares publicado no periódico Nature, no meio de 150 páginas dedicadas ao tema, o projeto internacional apresentava onze importantes achados – entre eles o de que 223 de nossos genes “parecem ter sido transferidos de uma gama de espécies bacterianas”, em uma transferência horizontal na árvore evolutiva.


Em outras palavras, parte de nosso magnífico genoma não seria fruto de uma contínua evolução que foi selecionando de nossos ancestrais mais remotos ao lindo bebê Homo Sapiens à sua frente, mas teria em algum momento de nossa história adentrado direta e clandestinamente de simples bactérias!Zecharia Sitchin logo entraria clandestinamente nesta história científica, com sua nota intitulada:


“O caso dos genes alienígenas de Adão”


Sitchin defende que nós fomos criados através de engenharia genética por seres extraterrestres, os Anunnaki de Nibiru (o “12o planeta”), e teríamos sido feitos “à sua semelhança” a partir de hominídeos que habitavam este primitivo planeta quando de sua visita.Na nota, ele encaixa os 223 genes em suas histórias, aparentemente sem muitos problemas. Primeiro, é preciso notar como o cerne desta descoberta seria o de que temos genes em comum com bactérias. E enquanto os cientistas sugeriram que foram justamente inseridos por e elas e delas, também teriam notado que “não está claro se a transferência foi de humanos a bactérias ou de bactérias a humanos”. As bactérias poderiam ter adquirido os genes de nós. Nesse caso então o quê teria inserido esses genes? Ou quem? E de onde?“Leitores de meus livros devem estar sorrindo agora, pois já sabem a resposta”, escreve Sitchin. Extraterrestres, é claro, os Annunaki. Eles “vieram à Terra há aproximadamente 450.000 anos” em busca de ouro.


Depois de 150.000 anos, exaustos, resolveram criar sua mão-de-obra: “Enki -- o cientista chefe -- iniciou um processo de engenharia genética, adicionando e combinando genes dos Anunnaki com os dos hominídeos já existentes”. E o resultado foi nada menos que nós, Homo sapiens, a mão-de-obra terrestre para os extraterrestres.“É assim”, ele sugere, “que nós chegamos a possuir estes peculiares genes extras. Foi à imagem dos Anunnaki, não de bactérias, que Adão e Eva foram criados". O Projeto Genoma teria descoberto os “genes alienígenas de Adão”, uma “corroboração pela ciência moderna dos Anunnaki e suas proezas genéticas na Terra”.Uma busca no Google em março de 2004 mostra que esta nota de Sitchin foi reproduzida por mais de 4.000 sítios on-line. Infelizmente, está errada.


O caso dos genes bacterianos dos vertebrados


O problema com os “genes alienígenas de Adão” é que os genes discutidos e anunciados não seriam originais de “Adão”, isto é, não seriam exclusivos ao homem moderno. Teriam sido inseridos em nossa linhagem evolutiva há centenas de milhões de anos, e não há 300.000 anos, como Sitchin claramente afirma. Seriam genes presentes em todos os vertebrados, possivelmente presentes neles há pelo menos 450 milhões de anos atrás. O próprio Sitchin cita a informação, embora de forma habilidosa para que não evidencie o problema. Enquanto o anúncio original publicado na Nature diz que:


“uma análise mais detalhada feita por computador indicou que pelo menos 113 desses genes são comuns em bactérias, mas entre eucariontes, parecem estar presentes apenas em vertebrados” (ênfase inserida)


O autor de O 12o Planeta cita o trecho desta forma:


“A equipe do Consórcio Público, conduzindo uma busca detalhada, descobriu que em torno de 113 genes (dos 223) ‘são comuns em bactérias’ -- embora estejam completamente ausentes mesmo em invertebrados” (ênfase inserida)


Ao invés de dizer que os genes estão presentes em vertebrados, e não apenas em humanos, diz que estão “ausentes mesmo em invertebrados”. Sitchin exibe suas habilidades literárias.Nosso talentoso autor também cita várias vezes um artigo publicado no periódico Science.


Curiosamente, não cita que no mesmo artigo podemos ler que “alguns pesquisadores suspeitam que o genoma vertebrado antigo recebeu genes bacterianos” (ênfase inserida). Curioso, pois tanto a frase anterior quanto a posterior são citadas.Os seres vertebrados surgiram há milhões de anos, e nem mesmo Sitchin defende que foram os Anunnaki a criá-los. Segundo ele, os Anunnaki teriam vindo ao nosso planeta há “apenas” 450.000 anos, supostamente criando o ser humano há 300.000. Como tais genes podem ser encontrados também em outros vertebrados, não são “genes de Adão”, muito menos devem ser alienígenas. O anúncio feito pelo Projeto Genoma sempre se referiu aos possíveis genes bacterianos dos vertebrados.E há mais. Ou menos.


O caso dos genes inexistentes


Tais genes bacterianos transmitidos lateralmente aos vertebrados podem mesmo não existir.


Apenas quatro meses depois do anúncio de descobertas preliminares do Projeto Genoma, a mesma Science publicou um artigo do The Institute for Genomic Research que pretendia “corrigir o registro”, segundo Steven Salzberg. O novo estudo, centrado especificamente na questão, reduzia os genes possivelmente adquiridos lateralmente a pouco mais de 40, “tendendo a zero” à medida que mais genomas e mais buscas fossem realizadas.Mais um mês e a própria Nature também publicaria outro estudo feito pela GlaxoSmithKline que igualmente contrariava a promiscuidade de genes entre bactérias e vertebrados.


Analisando parte dos genes em questão, o estudo defendeu que eles “podem ser explicados em termos de herança através de origem comum ao invés de um pulo de bactérias a vertebrados”.


“O relatório publicado na Nature em fevereiro de 2001 tinha o seguinte título geral:


‘Seqüenciamento e análise inicial do genoma humano’. Era um relatório preliminar, que divulgava genericamente o que se tinha aprendido até aquele momento. E se aprendeu muito”, disse o bioquímico Jorge H. Petretski em uma lista de discussão sobre ufologia, a BURN. “Mas alguns meses depois... já se tinha aprendido mais um pouco”, completou. Mal para Zecharia Sitchin, que pretende revelar a “verdadeira” história não só da humanidade, como de seres extraterrestres, datando de centenas de milhares de anos. - - - Com agradecimentos a Jorge H. Petretski pela ajuda na correção desta ‘referência’

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