Memórias de minhas lembranças mortas
Seco
Livro I
Seco
Livro I
- Tudo está escuro, meus olhos estão abertos, mas não consigo ver nada, será que estou cego? Talvez seja um sonho. Não. Acho que não, em sonhos conseguimos enxergar alguma coisa. Me sinto mais leve, mais livre, que luz é essa, será que é minha visão voltando? Espero que sim. Engraçado não consigo lembrar de nada, só que estou nessa escuridão. Agora sim, a luz começou o que é isso, quem é esse cara caído no chão? Cara é o fim do mundo mesmo, ninguém está ajudando ele, meu Deus porque ninguém ajuda esse cara. Ei amigo você não está vendo esse cara caído no chão? Como esse cara passou por mim? Como fiquei transparente? Deve ser um pesadelo, mas espera, esse cara sou eu, não, não pode ser, tem que ser um pesadelo. Toda essa gente nesse restaurante e ninguém para me ajudar. Droga tudo está voltando a ficar escuro, aonde vou para agora?
- Pode abrir os olhos agora Benjamim.
Uma voz suave me mandava abrir os olhos, mas tinha medo, tinha medo de ver alguma coisa que não gostaria de ver, sabe.
- Benjamim, Benjamim, abra os olhos garoto.
Lentamente abria meus olhos e ao mesmo tempo sentia um calafrio percorrendo por todo meu corpo – vamos Benjamim, tenha coragem cabra – eu dizia comigo mesmo, não era fácil, no entanto tinha que abrir os olhos, não podia passar a eternidade com os olhos fechados.
- Já vou abrir, estou abrindo, por favor, não me machuque.
- Olá Benjamim.
- Mais... O que... O que estou fazendo aqui, na escultura de Brennand no recife antigo?
- É bonito aqui não é?
- Nunca vim aqui, mas é muito bonito sim.
- É lindo sim, sabe, fico imaginando se uma tsunami viesse para cá, seria o fim desses arrecifes do parque das esculturas, do marco zero. A propósito me chamo Azrael, mas pode me chamar de Malak, é mais fácil de se pronunciar.
- Quem é você? E o que aconteceu comigo? Como vim parar aqui?
- São muitas perguntas Benjamim, vou te responder a mais importante ok.
- Ah, tá bom, ok.
- Você morreu Benjamim, não foi uma morte honrosa, mas depois do século XX, são raras mortes honrosas.
- O que, eu morri, acho que vou vomitar.
- Não se preocupe isso sempre acontece com os marinheiros de primeira viagem. Vamos, vamos sair daqui, só espero que você não enjoem em barcos, temos que atravessar para o outro lado, temos que pegar um bonde.
- Um bonde, mais que bonde Malak?
- Você tem dinheiro, para darmos ao barqueiro?
- Dinheiro? Não sei se você notou, mas eu estou morto, não sei como disse isso.
- Droga; já estou devendo uma grana para ele.
O barco se aproxima um senhor com um semblante alegre vem guiando o barco a motor, um sorriso simples, porém cativante.
- Vai para o outro lado Malak?
- Estou tentando ir meu velho.
- São quatro reais.
- Ah, meu amigo você poderia deixar na conta?
- Você já vem com essa conversa há tempos, no dia em que você me pagar sua divida, eu me aposento.
- Quebra esse galho meu velho; não tenho culpa se eles sempre aparecem sem nenhum tostão, mas prometo que te pago tudo no fim do mês.
- Tudo bem, mas que fique bem claro, se chegar o fim do mês e você não me pagar, vai ter que atravessar nadando.
- Vamos Benjamim, você tem que pegar um bonde.
Subimos num velho barco a motor, não podia acreditar no que estava acontecendo comigo, só podia ser um sonho louco, tinha que ser um sonho, pois como explicar a água límpida que eu enxergava, aquela água era negra, poluída com nossos dejetos. Vamos ver até onde esse sonho nos leva, me leva.
- Então Benjamim, quantos anos você tem?
- Você não sabe? Como um anjo não pode saber tudo?
- Você falou bem rapaz, um anjo, não sou onisciente.
- Tenho 30, acabei de fazer 30 anos.
- Não parece. Te dou uns 25 anos, você está bem conservado.
- Obrigado.
- Vamos descer, chegamos.
- Chegamos?
- Sim, vamos para o marco zero, é lá que você vai pegar seu bonde.
- Meu bonde? Pra que eu possa voltar pra casa?
- Bom é como se fosse sua casa, na verdade será sua casa nova, sua nova morada, sabe aquela frase e viveram felizes para todo o sempre, pois bem, você vai para o todo sempre.
- Mais eu não posso ir, tenho muito o que fazer aqui, eu ia me encontrar com uns amigos para celebrar meu aniversário, eles devem estar preocupados agora comigo, eu sinto muito mais tenho que ir Malak.
- Não posso te forçar a nada, sabe. Esse lance do livre arbítrio e tal, mas o que posso te dizer Benjamim é que se você ficar aqui, não será nada fácil para você, esse não é mais seu mundo, aqui é perigoso para um marinheiro de primeira viagem como você, lá vem o bonde.
- Por mais impressionado que esteja com tudo isso Malak, não posso ir, eu tenho que acordar.
- Quando vai entrar em sua cabeça que você está morto Benjamim, seu tempo aqui acabou aceite, será menos doloroso para todo mundo.
O Bonde parou bem no centro do marco zero, o condutor tocou a buzina – todos subam agora – gritou o condutor.
Era um bonde lindo, todo azul celeste com frisos pretos, as rodas douradas e desenhos de querubins com harpas na lataria do bonde.
- Malak, sinto muito cara, mas não posso ir, não assim, acho até melhor eu acordar.
- Você está ficando molhado Benjamim, é melhor entrar agora nesse bonde.
- O que está acontecendo Malak, estou me sentido ensopado?
- São lágrimas de sua mãe Benjamim.
- Minha mãe? Tenho que acordar e ver minha mãe.
- Última chamada – gritou o condutor.
- Olha Benjamim, não posso mentir para você, se bem que mentir às vezes tornaria meu trabalho bem mais fácil, mas temos que seguir um código de ética aqui, se você ficar aqui, não poderei te ajudar, na verdade, talvez nunca mais nos vejamos você entende o que isso significa?
- Malak estou ficando cada vez mais molhado.
- E então o que vai ser Malak, o garoto vai ou não subir?
- Calma ai chefe, da um tempo a ele, hoje é dia de seu aniversário.
- Que presentão. Sinto muito Malak, tenho horários a cumprir, todos a bordo!
- Você perdeu o bonde Benjamim, sabe o que significa?
- Que vou ter que esperar o trem das 11 horas.
- sinto muito Benjamim, sua peleja começa agora.
Malak se afasta de Benjamim que está completamente encharcado - boa sorte em sua nova vida morta – fala o anjo da morte.
- Malak você tem que fazer com que eu acorde cara. Malak, Malak, onde ele se meteu, porque sinto que estou derretendo? O que está acontecendo?
Meu dia começara monótono como sempre, o relógio despertara às seis e meia da manha, abro meus olhos, mesmo sabendo que horas são, olho para o relógio, meio sem querer acreditar que já está na hora de me levantar, me espreguiço, coço a cabeça, respiro fundo e falo uma frase que já virou rotina em minha vida – acorda pra viver cara – até parece que tenho uma vida boa, mas poderia ser bem pior, soa egoísta isso eu sei, mas é a mais pura verdade. Levanto meio adormecido, vou ao banheiro, coco, xixi, banho. Estou pronto para mais um dia de trabalho.
- Pode abrir os olhos agora Benjamim.
Uma voz suave me mandava abrir os olhos, mas tinha medo, tinha medo de ver alguma coisa que não gostaria de ver, sabe.
- Benjamim, Benjamim, abra os olhos garoto.
Lentamente abria meus olhos e ao mesmo tempo sentia um calafrio percorrendo por todo meu corpo – vamos Benjamim, tenha coragem cabra – eu dizia comigo mesmo, não era fácil, no entanto tinha que abrir os olhos, não podia passar a eternidade com os olhos fechados.
- Já vou abrir, estou abrindo, por favor, não me machuque.
- Olá Benjamim.
- Mais... O que... O que estou fazendo aqui, na escultura de Brennand no recife antigo?
- É bonito aqui não é?
- Nunca vim aqui, mas é muito bonito sim.
- É lindo sim, sabe, fico imaginando se uma tsunami viesse para cá, seria o fim desses arrecifes do parque das esculturas, do marco zero. A propósito me chamo Azrael, mas pode me chamar de Malak, é mais fácil de se pronunciar.
- Quem é você? E o que aconteceu comigo? Como vim parar aqui?
- São muitas perguntas Benjamim, vou te responder a mais importante ok.
- Ah, tá bom, ok.
- Você morreu Benjamim, não foi uma morte honrosa, mas depois do século XX, são raras mortes honrosas.
- O que, eu morri, acho que vou vomitar.
- Não se preocupe isso sempre acontece com os marinheiros de primeira viagem. Vamos, vamos sair daqui, só espero que você não enjoem em barcos, temos que atravessar para o outro lado, temos que pegar um bonde.
- Um bonde, mais que bonde Malak?
- Você tem dinheiro, para darmos ao barqueiro?
- Dinheiro? Não sei se você notou, mas eu estou morto, não sei como disse isso.
- Droga; já estou devendo uma grana para ele.
O barco se aproxima um senhor com um semblante alegre vem guiando o barco a motor, um sorriso simples, porém cativante.
- Vai para o outro lado Malak?
- Estou tentando ir meu velho.
- São quatro reais.
- Ah, meu amigo você poderia deixar na conta?
- Você já vem com essa conversa há tempos, no dia em que você me pagar sua divida, eu me aposento.
- Quebra esse galho meu velho; não tenho culpa se eles sempre aparecem sem nenhum tostão, mas prometo que te pago tudo no fim do mês.
- Tudo bem, mas que fique bem claro, se chegar o fim do mês e você não me pagar, vai ter que atravessar nadando.
- Vamos Benjamim, você tem que pegar um bonde.
Subimos num velho barco a motor, não podia acreditar no que estava acontecendo comigo, só podia ser um sonho louco, tinha que ser um sonho, pois como explicar a água límpida que eu enxergava, aquela água era negra, poluída com nossos dejetos. Vamos ver até onde esse sonho nos leva, me leva.
- Então Benjamim, quantos anos você tem?
- Você não sabe? Como um anjo não pode saber tudo?
- Você falou bem rapaz, um anjo, não sou onisciente.
- Tenho 30, acabei de fazer 30 anos.
- Não parece. Te dou uns 25 anos, você está bem conservado.
- Obrigado.
- Vamos descer, chegamos.
- Chegamos?
- Sim, vamos para o marco zero, é lá que você vai pegar seu bonde.
- Meu bonde? Pra que eu possa voltar pra casa?
- Bom é como se fosse sua casa, na verdade será sua casa nova, sua nova morada, sabe aquela frase e viveram felizes para todo o sempre, pois bem, você vai para o todo sempre.
- Mais eu não posso ir, tenho muito o que fazer aqui, eu ia me encontrar com uns amigos para celebrar meu aniversário, eles devem estar preocupados agora comigo, eu sinto muito mais tenho que ir Malak.
- Não posso te forçar a nada, sabe. Esse lance do livre arbítrio e tal, mas o que posso te dizer Benjamim é que se você ficar aqui, não será nada fácil para você, esse não é mais seu mundo, aqui é perigoso para um marinheiro de primeira viagem como você, lá vem o bonde.
- Por mais impressionado que esteja com tudo isso Malak, não posso ir, eu tenho que acordar.
- Quando vai entrar em sua cabeça que você está morto Benjamim, seu tempo aqui acabou aceite, será menos doloroso para todo mundo.
O Bonde parou bem no centro do marco zero, o condutor tocou a buzina – todos subam agora – gritou o condutor.
Era um bonde lindo, todo azul celeste com frisos pretos, as rodas douradas e desenhos de querubins com harpas na lataria do bonde.
- Malak, sinto muito cara, mas não posso ir, não assim, acho até melhor eu acordar.
- Você está ficando molhado Benjamim, é melhor entrar agora nesse bonde.
- O que está acontecendo Malak, estou me sentido ensopado?
- São lágrimas de sua mãe Benjamim.
- Minha mãe? Tenho que acordar e ver minha mãe.
- Última chamada – gritou o condutor.
- Olha Benjamim, não posso mentir para você, se bem que mentir às vezes tornaria meu trabalho bem mais fácil, mas temos que seguir um código de ética aqui, se você ficar aqui, não poderei te ajudar, na verdade, talvez nunca mais nos vejamos você entende o que isso significa?
- Malak estou ficando cada vez mais molhado.
- E então o que vai ser Malak, o garoto vai ou não subir?
- Calma ai chefe, da um tempo a ele, hoje é dia de seu aniversário.
- Que presentão. Sinto muito Malak, tenho horários a cumprir, todos a bordo!
- Você perdeu o bonde Benjamim, sabe o que significa?
- Que vou ter que esperar o trem das 11 horas.
- sinto muito Benjamim, sua peleja começa agora.
Malak se afasta de Benjamim que está completamente encharcado - boa sorte em sua nova vida morta – fala o anjo da morte.
- Malak você tem que fazer com que eu acorde cara. Malak, Malak, onde ele se meteu, porque sinto que estou derretendo? O que está acontecendo?
Meu dia começara monótono como sempre, o relógio despertara às seis e meia da manha, abro meus olhos, mesmo sabendo que horas são, olho para o relógio, meio sem querer acreditar que já está na hora de me levantar, me espreguiço, coço a cabeça, respiro fundo e falo uma frase que já virou rotina em minha vida – acorda pra viver cara – até parece que tenho uma vida boa, mas poderia ser bem pior, soa egoísta isso eu sei, mas é a mais pura verdade. Levanto meio adormecido, vou ao banheiro, coco, xixi, banho. Estou pronto para mais um dia de trabalho.
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