No
começo de 2012, o país testemunhou o estranho caso de Maria Verônica
Santos, de Taubaté, SP. Ela ficou famosa por ter fingido uma gravidez
de quadrigêmeos. Uma discussão foi gerada: teria a falsa mãe criado a
situação para obter algum tipo de vantagem ou seria uma de gravidez
psicológica? Se, por um lado, a resposta cabe à justiça, por outro
torna-se necessário compreender o que é uma gravidez psicológica, quais
os seus sintomas e por que ela ocorre. É o que faremos a seguir:
Gravidez
psicológica ou pseudociese é um fenômeno raro, aproximadamente de 1
ocorrência para cada 20 mil gestações. Nessa situação, a mulher acredita
que está efetivamente grávida. O fenômeno sofre influências físicas,
psíquicas e sociais às quais as mulheres estão sujeitas, sendo observada
maior influência dos aspectos psicológicos. Pensa-se, assim, que o
surgimento de sintomas físicos é desencadeado por uma ação
psicossomática da paciente, ou seja, os sintomas da gravidez surgem como
consequências decorrentes de um mecanismo no qual o corpo pode
apresentar alterações físicas de uma gravidez normal, como reação
psicológica a uma série de conflitos inconscientes. Tais conflitos podem
estar ligados à restituição de uma perda material ou como reação aos
conflitos sobre o papel social da mulher e ainda referentes à sua
feminilidade. Em casos menos graves a pseudociese aparece como um
distúrbio físico isolado, e nos mais graves, devido a antecedentes
psiquiátricos, como um delírio decorrente do funcionamento da
personalidade psicótica ou borderline, um grave transtorno de
personalidade sintomas psiquiátricos como humor instável e reativo,
problemas com a identidade e impulsividade sobretudo autodestrutiva
(tendências suicidas). Na maior parte dos casos de pseudociese estão
associados intensos desejos ou temores de engravidar.
Existem mulheres mais ou menos sujeitas à gravidez psicológica?
A
espécie de relação que a mulher tem com a sua família e com o seu
parceiro conjugal, um diagnóstico de infertilidade, a construção social
sobre a maternidade e a gravidez influenciam diretamente na ocorrência
do problema, que atinge mulheres de todas as idades, condições sociais,
com ou sem histórico prévio de doenças psiquiátricas. Com referência à
questão social, levando-se em consideração o papel perante a sociedade –
que sempre foi e ainda é imposto à mulher – e os significados de
fantasias na sociedade a respeito da gravidez e da maternidade, torna-se
evidente o quanto esses elementos contribuem para o surgimento da
gravidez psicológica. Uma depressão e outros quadros de transtornos do
humor podem estar associados, mas, sobretudo, experiências amorosas mal
sucedidas, envolvendo o abandono, a separação e a gravidez. Pesquisas
apontam maior incidência em mulheres casadas e com conflitos conjugais.
Há também uma relação da mulher que teve um aborto espontâneo ou
provocado com o surgimento do fenômeno.
Quais os sintomas comportamentais? Existem alterações no corpo?
As
mulheres afetadas realmente acreditam estarem grávidas e isso faz com
que procurem ajuda de um obstetra. Os sintomas podem ser explicados por
conta de algum conflito psicológico que estimula o hipotálamo e a
hipófise e esses, por sua vez, geram um aumento de prolactina no sistema
endócrino, o que gera sintomas de uma gravidez verdadeira como enjoos
matinais, aumento da sensibilidade, distensão abdominal, lactorreia e
aumento das mamas, mas não há feto, apesar de algumas mulheres chegarem a
sentir uma pseudo-movimentação fetal. É comum que, depois do
diagnóstico de gravidez psicológica algumas mulheres se recusem a
aceitar o diagnóstico. Nestes casos, avaliações psiquiátricas ou
psicológicas devem ser feitas.
Como a família deve lidar com o assunto? Como ajudar?
Fatores
familiares estão intimamente relacionados aos casos de pseudociese.
Muitas mulheres acometidas pelo problema estão tendo problemas no
relacionamento com o parceiro ou não estão vivendo um relacionamento
estável. Encaminhar o casal para um atendimento psicoterápico ajuda
bastante. A respeito da relação entre o desejo (ou medo) da gravidez com
as dinâmicas familiares, isso pode ser intensificado quando, nas
famílias de ambos os pais não há nenhum bebê ou crianças. Além dos
relacionamentos e dinâmicas familiares que a mulher estabelece, outras
questões sociais também aparecem como provocadores da pseudociese, como,
por exemplo, o papel sócio-econômico da mulher perante a sua família e a
sociedade. Dessa forma, é necessário o apoio e acompanhamento familiar,
principalmente com relação à diminuição das pressões e exigências da
família, seja em torno da gravidez, seja em torno da superação da
condição originada pela gravidez psicológica.
Qual o tratamento?
É
fundamental um acompanhamento médico para a paciente, a fim de avaliar a
necessidade de encaminhamento para psiquiatras e psicólogos. Dependendo
do quadro e da evolução dos casos, o tratamento é baseado na dosagem de
hormônios e medicamentos sintomáticos. O tratamento da pseudociese
costuma ser mais efetivo quando é realizada uma psicoterapia de apoio,
com foco para a realidade ou uma psicanálise. Mas pode ser necessária
uma medicação com antipsicóticos, em casos em que seja firmado um
diagnóstico de psicose.
O problema, uma vez superado, pode voltar? Se pode, como evitar?
Como o fenômeno é complexo, é difícil descartar a possibilidade de
uma recaída. Para algumas mulheres, dependendo de fatores como, por
exemplo, a psicose, existe maior possibilidade disso ocorrer. Para
outras, depois de tratamento medicamentoso associado à psicoterapia, as
chances diminuem bastante, existindo um bom prognóstico, principalmente
nos casos em que existam apoio e envolvimento familiar.
Fonte:http://www.vocesabia.net/saude/gravidez-psicologica-o-que-e-isso-2/
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