Existe muita discussão quanto ao casamento entre
primos, mas, mesmo assim, muitos deles se casam. No livro “A
Consanguinidade em Contexto”, o médico geneticista Dr. Alan H. Bittles
comenta enganos comuns a respeito do casamento entre primos, sob os
aspectos legais, culturais, religiosos e médicos.
O
casamento entre primos é tabu em grande parte do mundo. Nos Estados
Unidos, 31 dos 50 Estados consideram ilegal a união entre primos de
primeiro grau ou o permite somente em determinadas circunstâncias. No
Brasil, não existe proibição legal. O casamento consanguíneo encontra
resistência por parte da igreja católica. Aproximadamente 2% dos casais
brasileiros têm esse grau de parentesco. No Sul da Ásia e no Oriente
Médio, por outro lado, 20 a 50% dos casamentos são entre primos de
primeiro grau ou parentes ainda mais próximos. Mais de 10% da população
mundial estão casados com um primo em segundo grau ou mais próximo, ou
têm pais que são primos.
Em exemplos famosos, Charles Darwin
(autor da Teoria da Evolução das Espécies) e sua esposa Emma (foto)
eram primos em primeiro grau. Os avós de Darwin também eram primos.
Culturas onde o casamento entre primos é comum reforçam os seus
benefícios sociais e econômicos, tais como o fortalecimento dos laços
familiares e a manutenção das riquezas na família. Os opositores desse
tipo de união argumentam que o casamento entre primos de primeiro grau
aumenta o risco de transmissão de anormalidades genéticas.
Mas,
para o Dr. Bittles (foto), 35 anos de pesquisas sobre as consequências
biológicas do casamento entre primos levaram-no a acreditar que os
riscos foram muito exagerados. Sem dúvida, as crianças cujos pais são
parentes próximos têm maior risco de herdar doenças genéticas, mas os
riscos de doença e morte precoce são apenas 3 a 4% mais altos do que no
resto da população. E os riscos se aplicam principalmente aos casais que
são portadores de doenças que normalmente são extremamente raras. “Em
mais de 90% dos casamentos entre primos, o risco de ter um filho com
uma anomalia genética é o mesmo que para a população em geral”,
afirma Bittles. Além disso, diversos estudos a respeito das
consequências deste tipo de matrimônio não consideram a influência de
fatores não genéticos sobre a saúde infantil, como, por exemplo, o
status sócio-econômico, a dieta materna durante a gravidez e infecções.
Algum
grau de endogamia (acasalamento entre indivíduos aparentados) foi a
norma durante uma grande parte da história da humanidade. Do contrário,
como nós nos reproduzimos no começo da humanidade? Os cientistas
calculam que os primeiros povos a migrar da África possuíam entre 700 a
10.000 reprodutores. Diante desses números reduzidos e do fato de que
tais pessoas estavam dispersas em pequenos grupos e, muitas vezes,
casadas dentro da sua tribo, parece inevitável que algum nível de
acasalamento entre parentes próximos tenha acontecido.
Uma
vantagem do casamento entre parentes biológicos próximos é o fenômeno
chamado de “purificação”, no qual genes de doenças são expostos e
removidos da sequência genética. Graças a esse fenômeno, o casamento
entre parentes no início das populações humanas, manteve a ocorrência de
desordens genéticas baixa. Hoje, o casamento entre primos está em
ascensão em regiões com grande fluxo de imigrantes vindos de áreas onde a
prática é mais comum, como o Norte da África, Oriente Médio, Ásia
Central e Meridional. A longo prazo, a redução das famílias e a maior
mobilidade em muitas partes do mundo sinalizam que o casamento entre
primos deve diminuir,causando mais problemas para a população, no que
diz respeito a doenças.
Todos
os casais, primos ou não, podem ter filhos afetados por problemas de
origem genética. Para aqueles que não são da mesma família, este risco é
de cerca de 3%. Se o casal tiver códigos genéticos parecidos e
defeituosos, que ocorre mais frequentemente se forem primos em primeiro
grau, a chance de ter um filho com uma doença recessiva aumenta para 6% a
8% (50% a mais). Mas isso só se àqueles que não têm histórico familiar
de doença genética. Se os primos de primeiro grau já tiverem um filho
com doença recessiva, o risco de recorrência aumenta para 25%, ou 1 em 4
por gestação (independente do número de gestações), “Doenças genéticas
na família também podem elevar o risco, mas é preciso uma avaliação mais
detalhada”, explica a Dra. Fernanda Teresa de Lima, geneticista do
Hospital Albert Einstein, de São Paulo.
É
de suma importância para todos os casais, primos ou não, o
acompanhamento médico e nutricional no momento em que eles escolhem ter
um filho. Várias medidas podem ser tomadas para que se previna a
ocorrência de doenças genéticas. “Para casais com o código genético
parecido, é interessante que seja feito também um acompanhamento
genético com o médico geneticista. Pelo menos de uma a três consultas,
para que possamos ter certeza de que não há nenhuma dúvida restante”,
explica a Dra. Fernanda. Durante este acompanhamento, será feito o
heredograma (a construção da árvore genealógica do casal, que faz um
levantamento genético das doenças recessivas na família). Caso não seja
encontrado nenhum histórico de doença recessiva na família, a chance de o
casal consaguíneo ter um filho com doença recessiva é de 6%. Vale
lembrar que hoje, no Brasil, o aborto não é autorizado em nenhum dos
casos de doença genética recessiva.
Fonte:http://www.vocesabia.net/ciencia/primos-podem-se-casar-e-ter-filhos-normais/
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