quinta-feira, julho 19, 2012

A segunda parte do meu poema “No lixo"



Vida de lixo
(Marcos Henrique Martins)

Com o passar dos anos, os anjos meninas cresceram, desabrocharam, sobreviveram. Não se emporcalham mais no lixo, não mais dividem o espaço com cães e ratos. Passaram adiante a herança para outros querubins.

Cresceram, sem nunca ter vivido o momento sublime da inocência em ser criança, não ouve tempo para brincadeiras, para por roupas em bonecas, para ter bonecas. Hoje, usam as roubas que caberiam em bonecas e não se ruborizam por isso, agem com a mesma naturalidade dos tempos em que dividiam restos com os amigos reodores, seus confidentes até os dias de hoje.

Seus corpos se tornaram moeda de troca para se alimentarem. Maculam seus corpos, machucam seus corpos. Mas não perdem o respeito, pois não se perde o que nunca se teve. Não fazem planos para o futuro, só vivem o agora, e para suportar o agora se entorpecem em busca de um canto onde possam conseguir asas e sair voando, voando! Livres, livres! Mas não existe tal lugar.

Os anjos meninas se tornaram mulheres decaídas, que carregam no ventre o fruto de toda nossa omissão.

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