terça-feira, julho 17, 2012

Um de meus poemas

 
No lixo
(Marcos Henrique Martins)

Por entre sacos rasgados, mau cheiro, podridão, há vida que luta por um espaço dentro do buraco da dignidade.

Restos de comidas são garimpados em meio à esperança de não estarem totalmente estragadas, como se isto fizesse diferença ao estomago. O ronco do estomago, sempre presente, confirma que o que menos importa é o paladar.

Cachorros lutando por espaço, ratos sempre presente, cães lutando por comida, ratos devorando o que se pode ou não mastigar.

Um campo aberto, espaços sempre presentes; por entre as janelas de um coletivo, vejo condições de cárcere ao ar livre, miséria e morte; desonra e humilhação, presentes se banqueteando.

Vi três anjos revirando o lixo, três anjos meninas a desbravarem sacos fétidos, buscando matar a fome, a dor. Senti-me impotente. Apenas olhei. Apenas olhei e pensei que o número três era enigmático. Três anjos sem asas, três inocentes crianças a se misturarem ao lixo, a se alimentarem de lixo. Mãos curiosas, olhos sem vida, momentos felizes por acharem restos que um dia se chamou – comida –.

Ao passar, de longe, pude ver fragmentos de uma vida sem vida. Com meus olhos pude censurar e indignar-me com a situação e, continuar ausente, com um sentimento de culpa que morreu com o mudar da paisagem.

Vi três anjos na imundice e com o distanciar de minhas têmporas, não mais distinguia o que era gente, o que era bicho, o que era inocência, o que era lixo.

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